Alguns livros nos tiram da zona de conforto. Eles não trazem só romance, drama ou reviravoltas, mas sentimentos contraditórios — aqueles que fazem o leitor se apaixonar e, ao mesmo tempo, questionar tudo. É exatamente isso que acontece com histórias como After, de Anna Todd, e Garota Exemplar, de Gillian Flynn. Em comum, além do sucesso de público, essas duas obras têm algo ainda mais profundo: relações marcadas por toxicidade.
Neste artigo, vamos explorar como esses dois livros retratam relações intensas, instáveis e emocionalmente perigosas — e por que é tão importante falar sobre isso. Porque sim, ficção também é espelho. E entender os sinais de um relacionamento tóxico na literatura pode nos ajudar a reconhecer esses padrões fora das páginas.
After e a paixão que aprisiona
O primeiro livro da série After apresenta Tessa Young, uma jovem doce, estudiosa, que sempre seguiu as regras. Tudo muda quando ela conhece Hardin Scott — um típico bad boy: rude, imprevisível e, claro, extremamente atraente.
O relacionamento dos dois é intenso desde o início, marcado por brigas, reconciliações explosivas e momentos de aparente vulnerabilidade. Mas conforme a história avança, fica claro que há algo mais profundo ali — e perigoso. Hardin é controlador, ciumento e manipulador. Ele fere emocionalmente, pede desculpas, promete mudar e repete o ciclo. Tessa, por sua vez, vai se apagando aos poucos, tentando ajustar sua vida à de alguém que constantemente a desequilibra.
Apesar de a série ser vendida como um romance, o que After realmente nos mostra é um retrato muito real de dependência emocional. A narrativa causa fascínio — principalmente pelo dinamismo da trama —, mas também desconforto, especialmente quando percebemos que muitos dos comportamentos de Hardin seriam inaceitáveis fora da ficção.
Esse livro divide opiniões, mas levanta uma discussão essencial: até que ponto podemos romantizar comportamentos abusivos? E mais importante: por que tantas leitoras se veem em Tessa?
Garota Exemplar e o jogo psicológico
Se After escancara o caos emocional, Garota Exemplar mergulha em uma outra forma de toxicidade: a manipulação sutil, o jogo de aparências e o desgaste emocional silencioso.
A narrativa de Gillian Flynn é intensa e desconcertante. A história gira em torno de um casal em crise, cujas ações e reações são carregadas de tensão psicológica. O que parece ser um casamento comum se revela aos poucos como uma relação marcada por desconfiança, falta de comunicação e dinâmicas de poder desequilibradas.
O grande mérito de Garota Exemplar está na forma como a autora conduz o leitor por um labirinto emocional onde nada é o que parece. As camadas de manipulação e o controle velado provocam incômodo e reflexão, sem precisar recorrer a grandes explosões dramáticas.
Esse é um tipo diferente de relacionamento tóxico — menos visível, mas igualmente destrutivo. Flynn nos faz pensar sobre as relações que vivem de aparências, onde o amor é muitas vezes uma fachada para esconder jogos emocionais.
O que essas histórias têm a nos ensinar?
Ler After e Garota Exemplar é como entrar em um labirinto emocional. São livros diferentes em tom, estilo e proposta, mas ambos mostram que o amor, quando desequilibrado, pode se transformar em armadilha.
Essas histórias não são apenas entretenimento. Elas abrem espaço para reflexões importantes:
- Por que normalizamos o ciúme como sinal de amor?
- Até que ponto a paixão pode justificar o desrespeito?
- O que é romantização e o que é alerta?
- Que tipo de histórias estamos consumindo e valorizando?
A literatura tem o poder de iluminar o que está escondido. E, às vezes, ela faz isso com dor — como essas histórias fazem. Mas é justamente aí que está seu valor. Porque entre páginas desconfortáveis, podemos encontrar consciência.
Amor não é dor
Relacionamentos tóxicos não são apenas ficção. Eles acontecem, muitas vezes de forma silenciosa. E o primeiro passo para quebrar esse ciclo é saber reconhecer os sinais — seja na vida real ou nos livros.
After e Garota Exemplar mostram personagens que marcam porque nos obrigam a encarar o lado sombrio do amor. Eles nos desafiam a enxergar que amor de verdade não é guerra, nem jogo. É parceria, cuidado, crescimento.
Se esses livros te deixaram desconfortável, ótimo. É sinal de que algo tocou fundo. E talvez, no fim das contas, esse seja o maior poder da literatura: despertar em nós a coragem de viver relações mais conscientes, verdadeiras — e acima de tudo, saudáveis.
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